quinta-feira, 28 de julho de 2011

27/07/2011

Retomada dos ensaios após umas pequeninas férias!

Experimentei a movimentação de IANSÃ: o jeito de correr, a mão cobrindo a cara, e o movimento de tirar a espada, que é muito lindo e eu gostaria de usar em algum momento do espetáculo.

Fiquei de pé num cubo, e fiquei como que me olhando num espelho, apalpando as gorduras sobressalentes do meu corpo. Então começo a tirar umas partes da roupa e a ficar meio pelada meio não, meio estranho grotesco. Pego nas minhas gorduras como pedaços de carne que não pertencem ao meu corpo.

Aqui, quero criar alguma partitura de bater no próprio corpo, o corpo como um saco de carne. Ou experimentar os movimentos de carne do Elias Cohen. Daí fiquei pirando de cortar as gorduras com a espada da Iansã, mas isso não sei se rola mesmo. Passo a espada por um pedaço do corpo, FÍÍÍÍN, retiro a parte com a mão e/ou como, ou jogo fora. Até chegar com a espada no pescoço. Páro bem na hora de cortar o pescoço, mudo de ideia e corto um pedaço de nariz. Só a pontinha.

A cena ainda está capengaça, mas tenho muita vontade de falar sobre essa auto mutilação cometida pelas mulheres.
(Noutro dia, alguém estava me contando que a última moda é serrar um pedaço do queixo, porque fica melhor pra televisão. Como pode o ser humano se submeter a esse tipo de cirurgia? Tudo em nome de uma coisa dura cruel chamada BELEZA.

Outro momento: experimentei começar a peça deitada no chão, num cubo no canto esquerdo (visto da plateia), vestindo a camisa que uso no Materno. Pego a carta do meu irmão e começo a dizer o texto da Ofélia, que escrevi. Ofélia afogada entre pilhas de roupa suja suja emboladas pelo chão do quarto.
Agarrada ao criado mudo transbordando papéis inúteis que não consegue se desvencilhar
...

E crio um jogo de intercalar frases da carta do meu irmão lidas na hora, com o texto da Ofélia. Achei que pode ficar interessante. No próximo ensaio tenho que desenvolver melhor isso. A idéia é que eu vá dizendo o texto até chegar no vestido preto que está pendurado no canto oposto.
E então vou vestindo, entrando no vestido, de pé. Termina o texto e estou de pé e de vestido no cubo do canto: Ofélia por pouco, aos poucos, para poucos
.
Caio do cubo e já vou desequilibrando, dando início ao Portuguesa Marguerita.

segunda-feira, 25 de julho de 2011




fotos de Francesca Woodman
"Dessa maneira, o homem deve fazer aquilo que proporcionar mais prazer à moça, dar-lhe tudo o que ela tiver o desejo de possuir. Por isso, deve obter-lhe brinquedos pouco conhecidos de outras moças. Também pode mostrar-lhe uma bola tingida com várias cores e outras curiosidades. Deve dar a ela bonecas fabricadas com tecido, madeira, chifre de búfalo, marfim, cera, farinha ou terra. Também utensílios de cozinha e imagens em madeira, como um homem e uma mulher em pé ou um par de carneiros, cabras ou ovelhas. Templos feitos de terra, bambu ou madeira, dedicados a várias deusas. Gaiolas para papagaios, cucos, estorninhos, codornas, galos e perdizes. Vasilhas de água de diferentes tipos e de formas elegantes, máquinas de aspergir água, violões, suportes para imagens, banquetas. (...) Em resumo, ele deve tentar de toda a maneira fazer com que ela o veja como o homem que fará por ela tudo o que desejar."

KAMA SUTRA - Vatsyayana
"As seguintes moças também devem ser evitadas:
Uma que seja mantida escondida.
Uma que tenha um nome que soe mal.
Uma que tenha uma depressão no nariz.
Uma que tenha as narinas viradas pra cima.
Uma que tenha corpo de homem.
Uma que seja curvada.
Uma que tenha as coxas tortas.
Uma que tenha a testa protuberante.
Uma que seja careca.
Uma que não aprecie a pureza.
Uma que tenha sido contaminada por outro.
Uma que seja desfigurada.
Uma que tenha atingido plenamente a puberdade.
Uma que seja amiga.
Uma que seja a irmão caçula."

KAMA SUTRA

essa é pra casar


foto de francesca woodman

"Quando a moça torna-se apta para o casamento, os seus pais devem vesti-la de maneira sábia e expô-la para que possa ser vista por todos. Todas as tardes, tendo-a vestido e adornado de maneira conveniente, eles devem enviá-la, em companhia de suas amigas, para assistir a jogos, sacrifícios e cerimônias de casamento e mostrar a ela como se promover, porque ela é como uma mercadoria."

Sobre a aquisição de uma esposa. KAMA SUTRA.
Falar sobre a mulher é deixar que eu escreva livremente
Que eu disserte sobre qualquer assunto
Que eu me assuste
Que me arrebate
Feminino é soltar o verbo
Datilografar baixinho
Chorar no escuro da cama da casa dos pais
São meus dedos de mulher que me guiam
É meu corpo
É o que há de natural em mim: ser mulher
Não preciso que me peçam para falar sobre as mulheres
Tudo que eu disser estará atrelado absolutamente ao fato de eu o ser
Não há dissociação entre meu ser e o ser mulher
Tudo que eu escrever
Tudo que pronunciar
A tudo o que me render
Tudo que eu encarar
Tudo tudo tudo
Parte desta mulher que vos canta

quinta-feira, 21 de julho de 2011

brainstorm

meyerhold, susanne linke, sayonara pereira, berlim, em mil em mim, sola, osso duro de roer, espaço - página em branco, minha tinta é meu corpo quem pinta, contando uma história de mulher, parto doído, nasci, pari um homem barbado, chupado, sugado, a cena do meu filme particular há quase um ano na avenida paulista. meu material minha letra. rascunho. no final, entram em cena 200 mulheres, como em Lorca. 200 mulheres. E um homem.

"mas se não saio dessa, sufoco".

sábado, 16 de julho de 2011



instalação da Pipilotti Rist que me sugeriu a seguinte ideia:
vestidos pendurados pelo espaço, iluminados de dentro pra fora. vários e coloridos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

5/05/2011

Programando-ME

Ensaio SOLO:
Incensar
Aquecer
Relembrar: “Portuguesa, Marguerita”
Partitura sem texto, com música, nomear movimentos. Ter o meu catálogo de movimentos, para que possa utilizá-los nos outros textos.
Pergunta norteadora do ensaio: qual a minha verdadeira pergunta?
Preciso de mulheres-referência. Mulheres-vivas-artistas-ou-não. Atuantes, sim.
Eu busco uma referência de mulher. Fujo em vão da minha mãe, caindo nos mesmos gestos, gostos, jeitos de falar.
Me visto como ela. Mania de organização. Apego ao de comer, de beber. Terra. Terra.
Reviver a mulher selvagem. Mulheres que correm com os lobos. Qual é o risco?
Amamentar um lobo que irá me devorar. Ainda assim, sustentá-lo, dar de mamar é instintivo. Deixá-lo viver. A partir de mim e para além de mim.
Mulher carnívora.
ENSAIO
Quadrado de fita crepe delimitando o espaço. Uma cadeira preta. Uma mesinha branca com um vaso e uma flor cor de rosa. Música: Noah’s Ark da CocoRosie.
Começo sentada na cadeira, com o braço dentro do vestido, como se estivesse vestindo, mas congelada. Olho para o vaso de flor.
Música começa.
Visto o vestido por inteiro, aproveitando cada passagem. Ando para o centro. Faço a “dança da bailarina triste” duas vezes. Na Terceira vez, vou andando para trás. Dou uma desembestada – levanto e abaixo o tronco algumas vezes, rápido. Paro no fundo, quase encostada na linha do fundo. Faço o movimento da “alça cai – peito a mostra”. Volto a alça, mão vai no fluxo do movimento, aponta para a flor, ameaça-a, duas vezes. Ódio da flor. Vou até ela, picoteio, despetalo. Como se ela fosse a bailarina, pego as pétalas, arranco. Então, recolho todas as pétalas e corro até subir na cadeira. De cima, deixo cair as pétalas como chuva ou como neve. Caio. Movimento “do parto”, tres vezes, dizendo “I, Ich, J’eu, Io, Yo, Eu. Nasce. Sento. Pego pétala por pétala que estão na minha frente, e vou jogando para trás, uma a uma. Respiração junto com cada uma.
Viro de frente querendo rir. Digo HAHAHA. Fico puta, bato a mão no chão e vou para o movimento “alça/peito”, ajoelhada.
(até aqui, só)



28/04/2011 – 17:03hs

Hoje. Exploração de nascer de dentro do vestido. O vestido no chão, do lado avesso, eu deito e vou entrando nele, dizendo o texto: estou precisando urgentemente de nascer. Mas se não saio dessa, sufoco. Quero gritar, quero gritar pro mundo. Nasci.
Aí eu nasço, ajoelhada, o vestido fica direitinho agora, vestido em mim. Digo.
I
Ich
J'eu
Yo
Io
Eu
Ao mesmo tempo em que vou levantando. Uma palavra pra cada movimento. Até chegar na posição da bailarina. Sorriso. Congela. Aí começa partitura bailarina caindo. Sempre que cai, lá embaixo diz I Ich Jeu, etc. E levanta de novo.
Aí explorei algumas maneiras de pular no cubo pra começar. A que mais gostei foi a que começo de costas pra ele e pulo com os dois pés. Depois me mantenho bem na beiradinha, num equilíbrio instável.
Depois, trabalhei as ações pro texto que criei no último ensaio, e transformei algumas coisas, acredito que para melhor.

Seguirei.

14/04/11 - Ensaio eucomigomesma número 3

No teatro!!!

Experimentos com o palo santo. Dancei pela sala incensando. Como carvão, risquei meus braços.

Espalhei meus textos pela sala.

Comecei a ensaiar o “Portuguesa Marguerita”. Coloquei o texto de pé, criei a primeira versão de uma cena narrativa para este texto. Estou gostando. O texto dá margem para a criação de imagens interessantes, ao mesmo tempo em que narra uma discussão de casal (quase) banal.

Primeira ideia estrutural (ai que bom que veio!):

Textos espalhados pelo palco.

Criar início (pode ser o palo santo, o ritual, o pintar o corpo).

Criar movimentaçao que me leve de um texto ao outro. Partituras físicas que se repetem nos textos, mas ganham novo significado dependendo do contexto em que se inserem. Por exemplo: o movimento do tirar uma alça do vestido deixando apenas um seio à mostra significa uma coisa no "Portuguesa, Marguerita", mas no "Materno", há um outro significado.

Chego diante do texto. Seguro-o. “Enceno-o”. Ando pra outro texto. Enceno. Talvez, TODOS os movimentos possam se repetir, mas em outra ordem. Sempre ressignifico-os.

Preciso de MAIS!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Ensaio 2 – 07/04/2011 – quinta-feira

Hoje teve Palo Santo!
Incensei a Sala 24 inteira e comecei a Saudação ao Sol (ou Surya A, na Ashtanga Yoga) e repeti quatro vezes. Respiração Aikido (Elias) acelerando o ritmo. Exercício coluna e homoplatas (Augusto Omolu). Exercício “abre do lado” e abaixa em flecha e alterna os braços (Augusto). Exercício ponta do pé, abaixa e braços pra dentro (Estelamare).
Deitei para me alongar e acabei dormindo. Sonhei com o Wagner e acordei dizendo “O Wagner não tem cabeça mesmo”!
Então coloquei a música do Satie e comecei a criar. A sensação mais forte que essa música me transmite é a de indecisão. De um lado pro outro. Quero isso, mas também quero aquilo. Altos e baixos. Justamente por seu refrão ser formado por notas quase iguais que se repetem, mas em intenções diferentes. Parece que sempre é possível ir pelos dois caminhos, mas nunca se escolhe um definitivamente. E precisa?!
• Levar “Ou Isto ou Aquilo” e ver o que acontece,
• Pensar nisso: “notas quase iguais que se repetem, mas em intenções diferentes” – algum movimento pode vir disto.
Em relação a isto da indecisão, cheguei ao seguinte texto, enquanto meu corpo corria para um lado e para o outro:
Me chamo Sofia tenho 24 anos mas isso não interessa.
Estou vestindo uma roupa preta que parece de balé, mas nao é.
Hoje? Nao sei.
Cinema? Ah legal, eu gosto! Que filme? (ando para um lado)
Teatro? (como se alguém estivesse me chamando, vou para o outro lado) Ah pode ser, eu quero!
Na Pinacoteca? Animal! Vamos! (para o outro lado)
Viajar? Mas quanto tempo? Um mês? Nossa, vamos? (anda para o outro lado, e assim por diante).
Casar comigo? Você quer casar comigo? Agora? Vamos!
Mas... eu preciso de um trabalho.
Garçonete? É, dá pra ganhar uma grana, mas
Teatro? Quero! Aceito!
TV? Ah, dá mais $ né? Puts...
Cinema? O que? Eu sempre quis fazer cinema!
Mas eu tinha dito que ia me casar,que ia no cinema, no teatro e me casar. Eu ia viajar também. (Pára)
Ai. Acho que vou ficar aqui.

Outra coisa que experimentei foi a questão da identidade que estava lendo no texto do Grotowski. Ele diz que o ator precisa saber sua identidade para atuar a partir das suas questões. Fiquei experimentando situações com meu RG, minha identidade mais óbvia, e que, ao mesmo tempo, não diz nada sobre a identidade das pessoas porque se trata de uma carteira verde, IGUAL PARA TODOS.

Depois, criei a seguinte partitura, que parte de imagens do solo de Berlin:

*Me passou agora pela cabeça criar algo com o tema BERLIM!

Bailarina sorri. Bailarina abaixa a cabeça, solta vestido, emburrada. Repete duas vezes esta ação. Bailarina bate o pé mimada, o braço sobe involuntariamente e quando desce o braço, ele tira a alça do vestido, deixando um seio a mostra. Braço volta trazendo alça pro lugar e mão vai na nuca, acaricia nuca e cabelo. Braço desce num impulso da nuca e leva o corpo pra se virar pro lado e aponta o dedo ameaçando alguém. Repete. Na segunda vez que aponta, grita, xinga ao estilo “papel amassado” da Minako. A outra mão acalma e embala a minha cabeça e vai me encaminhando e me acalmando até chegar no chão. Então começam os movimentos do “parto” do solo de Berlim. Duas vezes. Na terceira “nasce”- grito agudo, vai levantando o tronco e sentando, de costas para o público. Frieza. Vira a cabeça, olha para trás. Tira o lenço vermelho, joga. Vira, pega o lenço, poe na cabeça, sai andando com ele na cabeça. Espirra! Ele fica preso na boca. Cospe-o.







Necessidades:
Preciso de um texto.
Preciso de um mote.

domingo, 3 de julho de 2011

Primeiro dia
31/03/11

Sala negra, buraco negro. Sono. Meditei. Sono.
Andei pela sala, me movi através das articulaçoes, aqueci. Corri. Saltei os saltos que aprendi com o Edgar. Preparei o corpo. Para...

Para o vazio que assola um trabalho solo, uma página em branco, uma sala negra. Olhos, cadê vocês? Só consigo criar com olhos me olhando? Quanto sou capaz de me amar? De me desarmar? Percebo que tenho vergonha de mim. Percebo que preciso de um chefe pra poder criar.
Comecei a relembrar o solo que criei em Berlin. Sim, lá ele fazia todo o sentido, mesmo que eu não soubesse dizer qual era esse sentido. Era um sentido sentindo! Mas hoje, quando experimentei e relembrei os movimentos daquele solo inicial, percebi que não sinto mais. É cedo pra dizer? Talvez. Fiz só uma vez e me cansei, enjoei, os movimentos não ressoaram, não ecoaram fundo. Mas no próximo ensaio preciso me fixar mais a ele, repetir, repetir, até que ele volte a ficar orgânico.
Penso que o amor por mim mesma é o meu mote. É a minha necessidade de organização enquanto artista que está em jogo. É a minha disciplina e a minha autonomia. A minha necessidade de desenvolver o meu “método”, de fazer um apanhadão do que vivenciei e aprendi até aqui e ver como me viro a partir disso tudo. Super difícil.
Parei um tempo na cena da “bailarina”. Tem algo ali que me prende, um tema que me interessa. Uma vontade de elaborar isso. Acredito que no próximo ensaio posso desenvolver esta micro célula.
Mas sinto falta de um ponto de partida mais claro, mais concreto, uma ideia, um texto, uma música, algo assim. Preciso pesquisar.
Por hoje é o que temos.


Algumas referências da bailarina alemã Susanne Linke, à qual Sayô Pereira me introduziu...